fabricante de vento

aqui o calor é de ferver asfalto, automóveis, bancos de praça, corpos e delírios. o vento, na maioria das vezes, é uma bossa-nova. mas outro dia, eu observava as fileiras de acácias-amarelas na avenida, e vi que elas dançavam e não eram passos macios. eu vi você assoprando uma por uma as flores e folhas, confundindo os galhos, incomodando os mandruvás, dando a sua risada que ecoa longe. você fabricava vento e fazia um perfume chegar até mim. você me trouxe uma novidade alegre e indefinida. eu mal te conheço e já te fiz um poema - um homem que dança uma árvore merece, sim. você me faz ora acácia deslizando, ora mandruvá incomodado, ora árvore em tempo de brisa. mas a única coisa que consegui fazer foi esse poema e já me dei por satisfeita. vez em quando, me apego a uma árvore qualquer: acácia, palmeira, unha-de-vaca, araçá, eucalipto, chorão, ipê - pra ver se alguém venta pra elas. ou pra ver se você me venta. se você me dança.

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