a parte da fala que me assusta

a palavra me caiu no olho como um cisco, derramou cílio pra todo lado e foi se escrevendo no meu vestido. a palavra se plantou no meu peito (não no seio, no peito mesmo, a casa dos desalinhos) e ficava ali, ora navalha, ora acalanto. onde eu fosse, ela ia. eu queria arrancar, era impossível. e palavra que não desata é cruel, porque acumula. dizem que palavra assim não tem amor. mas a verdade é que palavra assim é o descontrole do amor, é quando ele transborda e não tem cuia, canequinha de alumínio, balde ou latão que segure. por isso ela fere e abraça. palavra que se derrama e se escreve no vestido nem sabe que chão e céu, boca e ouvido podem ser felicidade e deslumbramento quando o descontrole do amor se assenta.

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