Banalizaram a saudade também

Eu tenho percebido: como as pessoas gastam a palavra saudade de um jeito banal, hein... Uma palavra assim tão preciosa... 

Eu quando digo a alguém que tenho saudade, é porque essa pessoa realmente faz falta no meu dia a dia, porque a presença dela realmente é importante de algum modo. Quando dizem que têm saudade de mim, eu gosto de acreditar que eu fiz alguma diferença pra essa pessoa; me sinto muito lisonjeada e feliz.

Usar saudade com segundas intenções é covardia. Eu vejo gente usando a palavra saudade pra flertar, sem nem ter intimidade suficiente pra ter construído um universo que seja digno de saudade com a outra pessoa. Usar saudade por educação é uma besteira das grandes também. Já viu isso? Existe. Gosta da pessoa, mas ela nem faz aquela faaaalta imensa, nem conversava com ela quase; aí, não tem muito assunto quando reencontra, diz que tá com saudade, acha bonito. 

Saudade dói quando diante do finito. Saudade brilha quando na expectativa do reencontro. Saudade nunca é amena. Saudade é bonita demais – independente se vem com tristeza ou com alegria – pra ser gasta assim, sem filtro e sem critérios profundos. Dizer que tem saudade é, sim, dizer que ama de algum jeito. É dizer que tem carinho, que tem afeto. Tem muita coisa dentro da palavra saudade. 

A gente tem saudade de pessoas, de tempos, de lugares que somam no fluxo das nossas trajetórias.  A vida vai passando e tudo o que reflete na bagagem que a gente carrega vai dando saudade.

Eu tenho sentido umas saudades doloridas ultimamente – dessas que se constroem da finitude da matéria. Talvez por isso eu ande tão à flor da pele e tão intensa com esse tema. E cada vez menos conformada com quem usa saudade com qualquer intenção que não seja a da grandeza que ela anuncia. Saudade existe independente da possibilidade do encontro. Saudade existe quando tudo o que está diante do olho não basta.