Vento de praia à noite

Leve-me a um lugar que me fabrique sonhos: areia branca, coqueiros, sal, água translúcida, um ou outro ser humano, coco "com abelha dentro", silêncio pra ouvir a música cantada pela tríade vento-mar-pássaros...

Quando digo que eu não gosto de praia, quero dizer que eu não gosto, na verdade, da imagem que a gente do interior tem (e ajuda a construir e estereotipar), sobretudo em tempos de férias e feriados: tostar no sol o dia todo, cheiro de Sundown, aquela moleza, gentes aos montes, camarão e ostra dando intoxicação alimentar, música ruim alta dando intoxicação auditiva.
Foi aos 31 que eu aprendi, na Bahia, que praia é coisa boa (Arembepe, Itaparica... onde tudo era paz e parecia sonho). Porque, até então, as poucas experiências que tive me causaram aversão. Minha primeira vez na praia foi assim: eu devia ter uns 9 anos, quando minha mãe me levou em excursão pra Ubatuba. Não me lembro de muitas coisas, a não ser que só chovia e as janelas do hotel onde nos hospedamos estavam sem vidros. Quando minha mãe viu as janelas, ficou louca; mas a gente já estava lá, ia fazer o quê? Lembro que eu, uma criança sem devoções religiosas, cheguei a jogar doces no telhado pra Cosme e Damião, em troca de dias de sol. Mas chovia. Além disso, não havia crianças pra eu brincar. Tédio predominou. As lembranças boas foram do fato de ser minha primeira viagem "turística" com minha mãe e de que eu fiquei fascinada ao saber, experimentando, que aquela água toda era salgada.
Depois, as idas a Peruíbe e Maranduba (SP) não foram muito favoráveis para reverter o conceito de praia ao qual eu já havia me condicionado. Era gente por todos os lados e chuva.
Agora, posso dizer que encaro uma praia "numa boa". Desde que não tenha gente e barulho. Desde que não seja o espelho daquilo que nós, do interior, geralmente temos impregnado.
Mas o melhor, o melhor mesmo, sabe o que é? Vento de praia à noite. É a melhor sensação que se pode trazer. Nada se compara... Nada.



Comentários

  1. Que suas sinestesias se multipliquem para nos apresentar experiências de suas viagens que, sendo únicas, não podemos fazer, mas viajarmos em você. Cada um faz a sua e... ah, se eu soubesse escrever!

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  2. Puxa, além de tudo o que você faz -matérias para o jornal, cantar - ainda tem tempo para escrever artigos/crônicas? Qual é o mote? Parabéns, gostei muito.

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