acordar triste

perdi a noção que o mundo me deu de aurora. perdi a afinidade com os meus anseios. perdi a conta dos meus medos - o que não sei, de verdade, se devo considerar bom ou ruim. a sensação é a de que perdi um pouco do viço, daquela alegria encantada, do prazer em imaginar. ganhei quilos e mais um item pra minha coleção de desilusões. eu me desgasto apenas de olhar, meu deus, pra esta gente triste. no que é que eu posso me espelhar, se as coisas se desmancham, se vale mais a grana que o caráter, se ninguém mais planta árvores ou canta cantigas para os filhos? costumo dizer que tenho medo de enlouquecer de vez. eu quero ter paz, não às custas da inércia, mas nada me tira desse transe, dessa submersão, desse estar em mim sem estar. a vida está aí, passando, passando. e só sei ficar triste, não me movo. teve uma vez que eu quis andar de bicicleta. eu fiquei andando, sabe? coloquei até um galhinho de primavera na cesta. mas eu caí, me ralei feio mesmo. nunca mais, meu deus. nunca mais.


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